Você já se perguntou o que aconteceria se Peter Pan fosse reimaginado como um bad boy sombrio, sensual e completamente insaciável? É exatamente essa a proposta de O Rei da Terra do Nunca, primeiro volume da série Vicious Lost Boys, escrita por Nikki St. Crowe.
Publicado em 2022, esse livro faz parte da febre do dark romance erótico que mistura contos de fadas com muito desejo, tensão sexual e personagens moralmente duvidosos. Se você está esperando uma releitura encantadora do clássico infantil... melhor ajustar suas expectativas. Aqui, Peter não salva ninguém — ele devora.
Mas será que a história entrega mais do que um elenco bonito em situações calientes?
Ano: 2023
Autor/Autora: Nikki St. Crowe
Tradutor/Tradutora: Flávia Yacubian
Editora: Universo dos Livros
Gêneros: Fantasia / Ficção / Literatura Estrangeira / Romance
Páginas: 208
A trama segue Wendy Darling, agora uma jovem marcada pela promessa feita por sua mãe — nunca ir à Terra do Nunca, nunca confiar em Peter Pan. Claro que ela faz justamente o contrário. Wendy é levada (ou seduzida) até a sombria e sensual Terra do Nunca, onde o Peter da vez não é o garotinho de coração puro da Disney, e sim um homem envolto em poder, mistério e desejo.
A Terra do Nunca aqui é uma espécie de universo paralelo perigoso, regido por instintos, com Peter Pan como um rei predador, cercado por seus Lost Boys — que, aliás, também são tudo menos inocentes. O livro constrói um clima carregado de tensão sexual desde os primeiros capítulos, e o que deveria ser uma jornada mágica se transforma rapidamente em uma sequência de encontros íntimos, possessividade e jogos de dominação.
O problema? O enredo real — aquele que deveria amarrar tudo — parece existir apenas como desculpa para os momentos hot. Há menções a feitiços, ameaças externas e dramas internos, mas tudo soa superficial, como pano de fundo para o que a autora realmente quer mostrar: cenas quentes e dinâmicas de poder.
Wendy Darling
Wendy é uma protagonista que tenta equilibrar inocência e sedução, mas muitas vezes parece deslocada. Suas decisões são impulsivas, seu arco de desenvolvimento é raso, e grande parte de sua função narrativa é servir como objeto de desejo (e conflito) entre os Lost Boys.
Ela tem momentos em que parece querer dominar a situação, mas essas brechas de autonomia logo se perdem em meio à dinâmica de submissão e dependência emocional — algo comum no gênero, mas que pode incomodar quem busca protagonismo feminino mais firme.
Peter Pan
Esqueça o menino que não queria crescer. Este Peter é um homem sombrio, controlador, frio e irresistível — o pacote completo de um anti-herói erótico. Ele é o centro da narrativa, tanto no enredo quanto na tensão sexual.
Apesar de sua presença dominante, Peter carece de profundidade emocional. Ele tem um passado misterioso e suas intenções são ambíguas, mas essas camadas não são exploradas o suficiente para tornar o personagem verdadeiramente tridimensional.
Os Lost Boys (ou Meninos Perdidos)
Eles estão lá, são bonitos, desejam Wendy, e... basicamente é isso. Com nomes e atitudes que tentam diferenciar um do outro, os Lost Boys acabam funcionando como extensão da atmosfera sensual, sem um verdadeiro destaque individual (pelo menos neste primeiro livro). Quem sabe nos próximos volumes?
Nikki St. Crowe tem uma escrita fluida, fácil de acompanhar. A leitura é rápida, com capítulos curtos e diálogos ágeis — perfeita para quem quer uma experiência mais leve, sem exigir muita concentração ou reflexão.
A autora tem talento para construir cenas sensuais com linguagem envolvente e um bom domínio do ritmo narrativo nesse tipo de cena. Isso, aliás, é o ponto forte do livro: a sedução explícita.
Mas... o estilo tropeça quando o foco sai da sensualidade e tenta se aprofundar no universo criado. A Terra do Nunca, com toda a sua ambientação sombria e mágica, merecia mais construção de mundo, mais atmosfera. Como resultado, o cenário parece um palco vazio entre uma cena quente e outra.
Este não é um livro que pretende fazer grandes reflexões, e está tudo bem com isso — desde que o leitor saiba o que está procurando. O Rei da Terra do Nunca fala de fantasias sexuais, jogos de poder, domínio e entrega, e flerta com a ideia de que contos de fadas podem ser deliciosamente sombrios.
Mas se você procura romance com desenvolvimento emocional real, releitura crítica ou construção de universo rica, talvez saia frustrado. A ideia é mais sobre provocar do que aprofundar. E nesse sentido, o livro faz o que se propõe: entrega cenas intensas, tensão constante e aquele “clima proibido” que muitos leitores do gênero amam.
O Rei da Terra do Nunca é um livro feito para um público muito específico: quem curte dark romance erótico, com homens perigosos, protagonistas submissas e mais cenas calientes do que desenvolvimento de enredo.
Pra mim, foi uma leitura rápida, com alguns momentos divertidos, mas sem impacto duradouro. A história ficou em segundo plano, e apesar da ambientação promissora, senti que a autora poderia ter desenvolvido melhor o mundo e os personagens além da atração física.
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