[RESENHA] Kindred: Laços de Sangue, Octavia E. Butler

Kindred, Octavia E. Butler e The Tear Drop em The War Memorial of Korea

Título Original: Kindred
Título em Português: Kindred: Laços de Sangue
Ano: 2017
Autor/Autora: Octavia E. Butler
Tradutor/Tradutora: Carolina Caires Coelho
Editora: Morro Branco
Gêneros: Ficção científica / Literatura Estrangeira
Páginas: 432
Papel: 

Sinopse oficial: Em seu vigésimo sexto aniversário, Dana e seu marido estão de mudança para um novo apartamento. Em meio a pilhas de livros e caixas abertas, ela começa a se sentir tonta e cai de joelhos, nauseada. Então, o mundo se despedaça.
Dana repentinamente se encontra à beira de uma floresta, próxima a um rio. Uma criança está se afogando e ela corre para salvá-la. Mas, assim que arrasta o menino para fora da água, vê-se diante do cano de uma antiga espingarda. Em um piscar de olhos, ela está de volta a seu novo apartamento, completamente encharcada. É a experiência mais aterrorizante de sua vida... até acontecer de novo. E de novo.
Quanto mais tempo passa no século XIX, numa Maryland pré-Guerra Civil – um lugar perigoso para uma mulher negra –, mais consciente Dana fica de que sua vida pode acabar antes mesmo de ter começado.

O que motivou a leitura?
Particularmente gosto muito da Morro Branco desde que comprei A Biblioteca Invisível e venho acompanhando os lançamentos da editora desde então. Vi vários comentários entre os booktubers sobre Kindred e especialmente sobre como a autora, Octavia E. Butler, desenvolveu o tema. Fiquei curiosa e esperei uma oportunidade pra comprar o livro com descontinho =)

[RESENHA] - por Ariane

"A facilidade. Nós, as crianças... Não sabia que as pessoas podiam ser condicionadas com tanta facilidade a aceitarem a escravidão."

Como começar a falar de Kindred: Laços de Sangue? Iniciei a leitura no aeroporto enquanto aguardava o vôo e não entendia o porquê de tanto alvoroço em cima desse livro. A história parecia meio bleh e eu não conseguia me inserir ou acompanhar Dana (a protagonista) já que Kindred é um livro fora da minha zona de conforto.

Kindred narra a história de Dana, uma mulher negra que vive em 1976 e que acaba de se mudar para um novo apartamento com Kevin, com quem se casou. Kevin é um homem branco, mas com a mente mais aberta que os demais e a ligação da protagonista ao seu século quando coisas misteriosas começam a acontecer.

É 9 de Junho de 1976 quando Rufus, antepassado de Dana consegue 'chamá-la' a 1815 ao correr perigo de vida. E é assim que a aventura de Dana começa: cada vez que Rufus se mete em uma enrascada capaz de colocar sua vida em perigo, ela é 'invocada' para socorrê-lo. E, apesar de muito tempo se passar quando ela está em 1815, apenas alguns instantes se passam em 1976!

O plot da narrativa não parece lá tão diferente de qualquer outro de ficção científica. O que marca o livro e o difere de tudo que já li é a maneira com que Octavia E. Butler trata as questões raciais, de gênero e a mente humana ao lançar Dana a um século de escravidão e nos fazer olhar pelas perspectivas da protagonista a distinção entre negros e brancos, homens e mulheres.

Quando comprei o livro na Festa do Livro da USP Leste em Maio, uma das moças que trabalhava no estande da Morro Branco disse que ao começar a ler, ela não tinha conseguido parar até terminar. Quando comecei a leitura, não entendi porquê. Então terminei o livro dentro do avião, virando uma página após a outra como se elas fossem uma estrada contínua e eu estivesse andando por elas enquanto assistia à narrativa.

Dana tem 26 anos e é uma mulher esclarecida e trabalhadora que não aceita ser menos só por ser mulher, só por ser negra, mas que se vê presa em uma fazendo escravocata ao lado de Rufus, personagem central de que depende seu futuro e sua existência, mas que é um homem branco e filho do dono da fazenda.

A maneira como Octavia E. Butler trabalha e desenvolve a relação de Dana e Rufe é ao mesmo tempo deliciosa e perturbadora. Em sua condição de mulher negra, enquanto está no passado, Dana pertence à Rufus e está sujeita ao seus caprichos e as torturas da escravidão. Mais do que apenas suportar o que é imposto a ela, Dana precisa assistir ao sofrimento dos demais e permitir que a história siga com o menor número de interferências possíveis, já que sua própria existência depende disso.

Kindred me deixou dividida em vários aspectos e, assim como Dana, cultivei um carinho muito grande por Rufus. Octavia E. Butler cria uma narrativa que passa longe de vinganças e esteriótipos, os personagens passam a ser pessoas reais, com problemas reais e completamente imersos em sua própria realidade. Isso me fez pensar em quantas coisas passamos a aceitar sem perceber porque fazem parte do nosso dia-a-dia.

"O pai dele não era o monstro que poderia ser com o poder que tinha sobre os escravos. Não era um monstro, de forma alguma. Só um homem comum que às vezes fazia coisas monstruosas que sua sociedade dizia serem legais e adequadas."

Eu não saberia por onde começar a tecer elogios sobre a obra de Octavia E. Butler. Incrível soa extremamente positivo para questões tão tristes e incômodas, tão desesperadoras. A forma de escrita da autora é envolvente e limpa, sem rodeios e descrições cansativas, apenas o essencial para que o leitor possa criar seu mundo. E Carolina Caires Coelho fez um trabalho excelente em manter essa narrativa clean da autora na tradução! Sem contar o capricho da editora Morro Branco tanto na edição Luxo em capa dura quanto na edição regular!

Personagem favorito do livro: Dana!
Cena marcante: As crianças negras brincando de vender escravos.

"Eu estava me acostumando a ser submissa?"

Dica da Ari: Já está em pré-venda 'A Parábola do Semeador', novo livro da Octavia E. Butler e também publicado pela Morro Branco! (AMAZON | SARAIVA) :)

Onde comprar?
AMAZON
- FNAC (edição luxo | edição regular)
- Livraria Cultura (edição luxo | edição regular)
- Livraria Martins Fontes
- Livraria Saraiva (edição luxo | edição regular)

0 Comments:

Postar um comentário